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Do tempo em que um anúncio de página valia seis arrobas de carne.

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Pelo preço de seis arrobas de carne podia se programar um anúncio de página inteira nos primórdios da imprensa baiana. E isso era um despropósito naquele tempo em que quatro linhas eram o suficiente para uma oferta; dez linhas, no máximo, quando se tratava de anúncios mais elaborados como o de fuga de escravos, onde era preciso descrever hábitos e fisionomia em detalhes.

Uma página inteira de jornal tinha 48 linhas corridas em média, ou 96 em dois blocos. E se falei apenas em linhas e você já percebeu é por que essa era a medida de referência para a comercialização de espaços no jornal. Não se tinha imagem naquele tempo, todos os anúncios eram a traço.

A mídia era  muito barata. De maneira que era possível a um comerciante encartar anúncios de página inteira, a exemplo do João Primo, Justiniano de Castro Rabelo, Antônio Joaquim de Abreu, dentre outros que pagavam 3$800 reis, menos do que o salário mensal do porteiro da Câmara Municipal, para veicular um encarte.

Encartes não convencionais, seguramente estimulados pelas tipografias para não comprometer o seu espaço editorial, que era pequeno, quatro páginas apenas, num formato em torno de 25 cm de altura, na média, como em todo o mundo. Se considerarmos que a maioria dos jornais brasileiros garantiam descontos a seus assinantes, um privilegio, que oscilavam entre 20% e 100%, apressadamente poderíamos concluir que a mídia era literalmente de graça.

O hábito do anúncio de graça acabaria impondo limites : “dez linhas” em alguns casos para “os senhores assinantes” enquanto o anunciante convencional teoricamente pagava o preço de tabela. Preveniam-se “abusos”, mas só pagava quem assim o deseja-se, até por que já se faturava o anúncio e não contavam as tipografias com uma estrutura de cobrança eficiente. Pelas repetidas chamadas, pelo jornal, é possível avaliar o impacto do calote, praticamente institucionalizado.

Assim foi durante pelo menos 40 anos, até meados do século XIX quando os anúncios de serviços e de escravos cedem espaço para os anúncios da indústria farmacêutica internacional e seus agentes no Brasil. Então surgem os contratos de longo prazo, alguns por muitos anos, o que institui o desconto sobre freqüência, algo semelhante ao BV dos dias de hoje.

A tarifa por linha perduraria durante quase todo o século XIX, o preço variava entre 40 e 120 reis por linha, a depender da publicação, ao que parece sem nenhuma relação com a tiragem do veículo, nos primórdios nunca superior a 200/500 exemplares. O veículo era quase que o equivalente a uma mala direta, embora um mailing que atingia especificamente a elite política e comercial. E se a mídia era barata é por que não tinha demanda.


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